O Brasil não é para amadores
A LOA (Lei Orçamentária Anual) todo ano começa apontando qual vai ser o déficit… isto é normal! Desta vez, entretanto, não se sabe se por pudor ou inovação, a palavra déficit sumiu dos pronunciamentos e, em troca, no noticiário da área econômica, apareceram vocábulos estranhos, como “arcabouço fiscal” e “hiato de conformidade”.
Passado o primeiro momento, foi possível traduzir:
arcabouço fiscal – entenda-se como “déficit que se sabe que vai acontecer e então não vai contar como déficit”
hiato de conformidade – entenda-se como “déficit surpresa que não vai dar para ocultar, vai valer como déficit”.
Pois em 2023, repetindo a mesma insensatez, já se sabe que o déficit vai ser de R$141 bilhões. Mas este não conta, já estava no “arcabouço”. Condenados a odiar o futuro achamos normal saber que os déficits são sempre por conta de custos, jamais por conta de investimentos. Neste ponto é humilhante comparar a média de investimentos da Coreia do Sul e do Brasil como % do PIB nos últimos 20 anos: 32% contra 18%.
Mas esta condição de país que perdeu o rumo dos investimentos (apesar de um ótimo contraexemplo, a Embraer) tornou-se um modo corrompido padrão na administração pública. Os editores da conceituada revista “The Economist”, desavisados deste modo perdulário de tratar a arrecadação, em 2009 publicaram uma capa inesquecível, o Cristo Redentor indo para o espaço feito um foguete, com o título “O Brasil decola”. Cerca de 4 anos depois, foram obrigados a publicar uma nova capa, o foguete desgovernado, voltando para a Terra, com a legenda “O Brasil estragou tudo?”. Quase um pedido de desculpas com um toque do proverbial humor britânico.
Decididamente, o Brasil não é para amadores, diz um conhecido ditado popular para descrever nosso manicômio sui generis. Pois parece que também não é para profissionais. O romance de Machado de Assis “O Alienista” deveria ser o livro de cabeceira de quem quiser entender o Brasil.
Luiz Esmanhoto
Presidente do Grita!