Carta Aberta – Terror e Mediocridade

Carta Aberta – Terror e Mediocridade

CARTA ABERTA AO CONGRESSO NACIONAL

TERROR E MEDIOCRIDADE

23/11/2023

Senhores Senadores e Deputados,

como é possível um ser inteligente não cruel acreditar que os acontecimentos no dia 7 de outubro em Israel não foram atos terroristas? Só é possível se lhe falta humanidade.

Um grupo de homens, no dia 7 de outubro, fortemente armados, nas primeiras luzes do dia, percorre metodicamente todas as casas de um pacato vilarejo isolado. Arrombando portas, quebrando paredes, surpreende seus moradores e os assassinam, um por um. Com violência insana e crueldade obscena ainda mutilam os mortos, quer sejam eles crianças, jovens, adultos ou idosos, homens ou mulheres. Alguns sobrevivem, são levados à força. E, como se isso fosse um momento absurdamente prazeroso e estético, registram em vídeo toda sua fúria desumanizada. Trazem câmaras pregadas ao colete de proteção.

Esses assassinos vão fazer o quê com os vídeos? Provar a seus comandos que foram bravos, que o treinamento deu certo, que executaram com brutalidade e perfeição o que lhes foi ensinado? Servirão para graduar as promoções e gratificações prometidas? E os sobreviventes sequestrados, como serão tratados? Serão seviciados e devolvidos com traumas irreparáveis? Depois de serem vítimas e testemunhas de atrocidades inimagináveis com entes queridos terão ânimo para viver? Onde arranjar forças para se reinventar no meio de tanto sangue e insanidade?

Enquanto estes desumanos registravam em vídeo seu piquenique macabro, outros da mesma espécie percorriam os arredores de um descampado onde se realizava um festival, chegando às suas vítimas com motos e parapentes. Mais sangue, mais mortos, mais reféns.

Que adjetivo dar a este grupo de assassinos? Quem os treinou? Receberam elogios, medalhas pela “missão cumprida”? A que organização pertencem?

Só um adjetivo é possível: terroristas!

Os assassinos seriam palestinos a serviço da organização Hamas. Sua origem, a Faixa de Gaza, território Palestino, onde o Hamas é a autoridade política. As vítimas seriam judeus ou quem estivesse naquele momento em seu caminho. Estavam em território israelense.

“Ah! Mas então não é tão grave… só mais um ‘desencontro’ entre palestinos e judeus!” Inacreditável, mas parece ser assim, um incidente que pode ser tratado com um “dar de ombros” pelas nossas autoridades no Poder Executivo. Naturalmente, estas autoridades se fazem presentes quando tem holofote. Por exemplo, no desembarque de brasileiros que pediram para serem repatriados. Os pronunciamentos feitos pelo Presidente da República são ali lançados para a mídia cooptada, pronta para jogar no mesmo time. Dias depois, até a primeira-dama se dispôs a fazer um depoimento a favor dos palestinos numevento, a convite da primeira-dama da Turquia, Emine Erdogan. Falam da Paz, mas lhes falta interesse e compreensão de uma história complexa. Escolhem um lado pela ideologia binária, esquerda ou direita, mas desconhecem a história de uma região conflagrada há milhares de anos. Parecem também desconhecer sua história recente, iniciada com uma partilha de territórios proposta em 1948 pela ONU. Era uma pré-condição para que judeus e palestinos pudessem formar seus Estados, em paz também com os países árabes vizinhos. Não prosperou. Só os judeus aceitaram. Palestinos e árabes não. Daí em diante estava lançado o jogo bipolar onde só um lado será vencedor!

Seria pedir muito para nossas autoridades políticas deixarem de lado o universo bipolar? Parece que sim, pois de um modo geral, não conseguem ir além da lógica binária de um Fla-Flu.

Quando empate em futebol tiver que ser discutido numa mesa de negociação para decidir quem ganha aí talvez seja criada uma boa escola para políticos. Irão aprimorar seu modo de compreender conflitos e costurar acordos com imaginação e sensatez. Serão mais produtivos. Vontades autocentradas, uso de tautologias e expressões de efeito midiático serão descartadas pela dura realidade das contradições a serem transpostas.

Deixemos de lado o teatro da carnificina e olhemos por um instante um evento para jornalistas e autoridades organizado pelo Consulado de Israel em São Paulo. Seria mostrado um vídeo de 40 minutos, documentário do acontecido naquela manhã. No noticiário da noite, deu para ver o salão do evento: vazio! Umas poucas cadeiras ocupadas aqui e ali. Ou seja, grande parte da mídia também já tem um lado, não precisa ouvir o outro. As cadeiras dos ausentes falavam por eles: “não me venham com fatos, eu já tenho minha opinião formada.”

O comportamento binário obscurantista continua. Desta vez num evento na Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, no dia 8/novembro, um mês após o massacre. É um bom exemplo da intolerância que, infelizmente, tornou-se usual em nossa política. Um deputado foi impedido de participar de uma reunião sobre o conflito Hamas x Estado de Israel enquanto alguns dos presentes gritavam a palavra de ordem “Estado de Israel, Estado assassino, viva a luta do Povo Palestino”. Julgamento sumário faz sentido? Na Comissão de Direitos Humanos?

Para aqueles entre as Senhoras/Senhores Parlamentares que lá estiveram, e participaram deste vergonhoso ato antidemocrático, é importante lembrar alguns marcos da história deste conflito árabe-israelense e sua vasta coleção de momentos sinistros.

O Hamas tem uma ligação histórica com a famigerada SS de Hitler. Seu idealizador, Amin al-Husseini, conseguiu audiência com Adolf Hitler em 1941. Qual o grande plano: unificação dos Estados Árabes, com o apoio da SS (há evidências da intenção: é conhecida uma foto onde Amin inspeciona uma tropa da SS, mas não se tem provas de que tenha havido apoio efetivo). A predisposição de Amin era clara, ele era radicalmente contra a existência de um estado nacional judeu na Palestina.

Em resumo, eis o que chega aos eleitores: o Poder Executivo tem opiniões sobre o conflito Gaza-Israel que não lhe permite ir além de uma escolha binária; a grande mídia o acompanha; o Poder Legislativo patrocina cenas juvenis de pugilato. Resta saber como interpretar o silêncio do normalmente loquaz Poder Judiciário. Talvez pudesse ressurgir retórico, num contraponto surpresa ao seu histórico recente, e para demonstrar erudição deveria proclamar: “o Hamas contém o gérmen do Nazismo”.

Trágica República em que todos os poderes estão apequenados.

Queremos deixar uma sugestão, para os Senhores Parlamentares. É grande o sofrimento de inocentes de todos os lados e nada pode acontecer enquanto autoridades públicas não se dispuserem a primeiro estudar a natureza do conflito, e, somente a partir daí, buscar caminhos para uma pacificação.

Vemos uma oportunidade para a Comissão de Direitos Humanos agir com equilíbrio e sensatez, ao invés de registrar um ridículo destempero como o de torcidas em estádios. Quando opiniões estão definidas a partir de ideologias, o resultado de qualquer conciliação será nulo. Precisamos de pelo menos uma entidade política isenta. A Comissão de Direitos Humanos deveria assim se posicionar. Então seria lícito convocar representantes do Ministério das Relações Exteriores e de comunidades organizadas de árabes, palestinos e judeus existentes no Brasil. Seu intuito: patrocinar mais adiante um grande evento pela Paz aqui no Brasil. Os roteiros dos eventos com esta finalidade seriam publicados e estariam disponíveis para discussão pública.

Seria a contribuição do Congresso para deter a violência e a irracionalidade instaladas também entre nós brasileiros.

Fala-se agora em trégua. Um bom momento para reflexão e ação. Nesta ordem.

O que o Movimento GRITA! propõe é que se abandone a mediocridade. Sem uma inflexão na rota atual das autoridades da República não contribuiremos para a PAZ. Ingenuidade de nossa parte? Talvez, mas foi a ingenuidade do menino David que deteve a violência de Golias.

Luiz Maria Esmanhoto

Pres. Conselho do Movimento GRITA!

ANEXOS

I – resumo histórico das tratativas de paz desde 1948

II – vídeos

ANEXO I

RESUMO HISTÓRICO

TRATATIVAS DESDE 1948 PARA ACORDO DE PAZ ENTRE

ÁRABES, PALESTINOS E JUDEUS

A coleção de fracassos nas tentativas de demarcação de territórios entre árabes, palestinos e judeus impressiona. Segue um resumo das ações internacionais que desde 1948 procuram soluções.

1948 – Acordo da ONU

Proposta a criação do Estado de Israel e do Estado Palestino; fronteiras e faixas de segurança foram definidas. Israel aceita, o Hamas, não. Israel inicia guerra para fazer valer seu Estado e território.

1949 – Conferência de Lausanne

Após a guerra as partes envolvidas participaram de uma conferência em Lausanne, Suíça, para estabelecer um armistício. As negociações não chegaram a uma solução.

1978 – Conferência de Camp David

Organizada pelos Estados Unidos e presidida por Jimmy Carter, esta conferência envolveu o presidente egípcio Anwar Sadat e o primeiro-ministro israelense Menachem Begin. Normalizaram as relações entre Egito e Israel, mas não a produziram avanços na questão palestina.

1991 – Conferência de Madrid

Estados Unidos e União Soviética conduzem negociações multilaterais entre Israel e vários países árabes. Tentativa de ampliar a questão discutindo o conflito Israel x Palestina no contexto de uma discussão regional mais ampla. Sem resultados.

1993 a 1995 – Acordos de Oslo

Assinados entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP). Estabelecido um cronograma para a retirada israelense de partes da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, bem como a criação da Autoridade Nacional Palestina (ANP). Os acordos também visavam estabelecer um processo de paz abrangente para resolver questões pendentes, como o status de Jerusalém e os refugiados palestinos.

2000 – CÚPULA DE CAMP DAVID

A vez do presidente Bill Clinton (Estados Unidos). Tentou facilitar um acordo final entre o primeiro-ministro israelense Ehud Barak e o líder palestino Yasser Arafat. As negociações fracassaram sem encontrar caminhos para dois desacordos principais: soberania de Jerusalém e o retorno de refugiados palestinos.

2002 – Plano de Paz por Iniciativa Árabe

Apresentado pela Liga Árabe. O plano garantiria o reconhecimento de Israel pelos países árabes em troca da retirada israelense para as fronteiras anteriores a 1967, uma solução para a questão dos refugiados palestinos e a criação de um Estado palestino com Jerusalém Oriental como sua capital. Relançado em 2007, continua sendo uma referência importante.

2003 – Iniciativa de Paz do Quarteto

O Quarteto para o Oriente Médio, composto pelos Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Nações Unidas, apresentou uma Iniciativa de Paz em 2003. Continha um roteiro incluindo reformas palestinas, cessar-fogo, retirada israelense, eleições palestinas e negociações para um acordo de paz abrangente. A iniciativa buscava estabelecer um Estado palestino viável e democrático coexistindo ao lado de Israel.

2007 – Conferência de Annapolis

Evento patrocinado pelos Estados Unidos visando retomar negociações de paz entre Israel e a Autoridade Palestina. Não produziram resultado.

2013 – 2014 – Negociações de Paz

Nova tentativa liderada pelos Estados Unidos para retomar as negociações diretas entre Israel e os palestinos. As conversações se desintegraram em meio a desacordos inamovíveis.

2020 – Acordos de Abraão

Refere-se a uma série de acordos de normalização das relações diplomáticas entre Israel e vários países árabes, um de cada vez. Vários acordos já foram firmados. Segundo o noticiário, o ataque do Hamas do dia 07/10/2023 teria acontecido quando Israel estava para dar partida em sua normalização com a Arábia Saudita.

ANEXO II

REFERÊNCIAS

VÍDEOS

Os vídeos foram escolhidos pela qualidade de informações objetivas que constam do seu roteiro. Intervenções subjetivas dos seus autores, em especial aquelas que contém juízo de valor, não representam necessariamente o ponto de vista do Movimento GRITA!.

Vídeos que servem para validar a veracidade de afirmações contidas na carta aberta estão marcados com *.

1. PALESTRAS DO PROFESSOR HENI OZI CUKIER (HOC)

Cientista político, Professor, Escritor e Palestrante. Formou-se nos Estados Unidos em Filosofia e Ciências Políticas e é mestre em “Internacional Peace and Conflict Resolution” pela American University em Washington D.C.

Trabalhou na Organização dos Estados Americanos (OEA), no think tank Woodrow Wilson Center, no Peace Building and Development Institute e no Conselho de Segurança da ONU.

5 Mitos sobre Israel x Hamas

Por que Israel existe?

Origem https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=9tZvZvuNTho

Missão https://www.youtube.com/watch?app=desktop&v=tLoaxOdPLfQ

Resiliência https://www.youtube.com/watch?v=VFcJHvicMoo

2. EDUARDO BUENO

Jornalista, tradutor, escritor e youtuber. Autor de livros muito conhecidos sobre História do Brasil.

Brasil, Israel e Palestina

3. EVENTO PATROCINADO PELA PRIMEIRA-DAMA DA TURQUIA

Pronunciamento remoto da Primeira-Dama do Brasil – 15/NOV

*Janja fala sobre guerra em Israel

4. EVENTO NA COMISSÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Deputado Abilio Brunini (PL-MT) – 08/NOV

*Escoltado para fora do evento pela Polícia Legislativa

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Luiz Maria Esmanhoto
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